Ela só queria seguir em frente; ele a deixou paraplégica

Por Raffael do Prado

Em Indaial, Santa Catarina, Suelen Aparecida de Melo decidiu recomeçar. Saiu de um relacionamento, buscou proteção, tentou viver em paz com os filhos. O ex-companheiro, inconformado com a separação, invadiu sua casa e a atacou brutalmente com golpes de faca. A violência foi tamanha que a deixou paraplégica. O caso aconteceu há um ano e dois meses e na última terça-feira (15), o agressor foi condenado a 18 anos e 10 meses de prisão por tentativa de feminicídio.

O caso é brutal — mas infelizmente, não é raro. É só mais um episódio da violência cotidiana contra mulheres que ousam dizer “não”.

Na mesma semana do julgamento de Indaial, o Brasil assistia a outro absurdo: o do advogado João Neto, preso em flagrante por espancar a namorada dentro de um escritório, em Maceió. As imagens são chocantes. Mas talvez mais perturbador do que a agressão em si tenha sido a cena seguinte: colegas do agressor limpando o chão coberto de sangue.

Não socorreram. Não denunciaram. Limparam. Homens passando pano para homens — literalmente.

Essa cena é simbólica. Resume o que muita gente ainda faz quando se depara com a violência contra mulheres: silencia, acoberta, minimiza. Fingem que não é com eles. Que não é tão grave. Que é um “problema do casal”.

Mas não é.

Violência contra a mulher não é um conflito doméstico. É crime. E é coletivo. Toda vez que alguém passa pano, reforça a estrutura que permite que agressores se sintam à vontade. É por isso que não dá mais pra dizer que “não é da minha conta”. É da nossa conta, sim. Porque o silêncio de hoje pode ser a conivência do feminicídio de amanhã.

Suelem só queria seguir em frente. E isso, em 2025, ainda é suficiente para que uma mulher pague com o próprio corpo. Ainda tem gente passando pano. Mas muita gente já entendeu: a gente mete a colher. E não tira mais.

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Raffael do Prado

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